sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal

Nesta noite eu os tenho a todos dentro dos olhos,
dentro dos braços.

A alegria e a ternura dançam nos sorrisos
e todos vêm a mim como se fosse ontem:

meus filhos e o Natal ,
o encantamento e o amor estampados.


Silvia Chueire

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Respiração


Abre o dia um cantar de pássaros.
O sol acende as nuvens
encostadas à rocha que vejo da varanda.

Suspeito que não sabes do que escrevo,
não somos mais um mesmo olhar para as coisas.

Entre fosco das nuvens e as paredes de pedra
há um mínimo espaço para respiração.

Se algo sobrevive neste espaço,
há de ser inseto ou angústia.


Silvia Chueire



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

No desterro

Era um corpo no desterro do silêncio.

Um corpo sem voz,

sem palavras que o sustentassem.



Era a dor cravada no corpo,

espinho, punhal.

Dor e ausência.



Era o corpo (quase) morto.



Silvia Chueire

terça-feira, 13 de outubro de 2009

não sucumbir

não sucumbir após anoitecer:
beber as palavras da memória,
viver no ápice da pulsação

- o sopro do dia roçando-te a face
a cada momento.


silvia chueire

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

bruto

o azul bruto da noite é um abismo:
cala-me a voz
ou a desata.


grito ou silêncio absoluto,
poema ou circunstância,

o azulnegro da noite bate no meu peito.


silvia chueire

sexta-feira, 3 de julho de 2009

essência

há um blues traçado
entre as minhas palavras
e as minhas mãos,
a equilibrar-se frágil como lágrima.

lamento e riso tocam as minhas pálpebras,
ritmo e desconsolo apontam caminhos
entre os meus cabelos.

deixo-me levar.


silvia chueire

segunda-feira, 13 de abril de 2009

no verão

chove ainda,
o verão se aproxima lentamente.

a cidade se agarra às cores,
respira-as;
cola-se aos azuis, verdes,
vermelhos,
pega-as com cuidado.
vida a depender delas.

o verão é um dos poemas da cidade.

o povo bebe de má vontade
esta chuva fina a molhar-lhe os pés
e o olhar.
espera pela canção das cores e do sol,
dos risos alagados pelo mar,
do suor a fazer brilharem os corpos
e o desejo.

naturalmente.


silvia chueire

quarta-feira, 4 de março de 2009

Março

A insônia deposita seus olhos lunares sobre mim
e diz um verso distante
com todo o oceano de permeio. E o trabalho,
as dúvidas, o grito claro da angústia,
a música desaparecida
da tua voz a me dizer alguma coisa, o tempo.


Março é chegado.
Tem uma força que me custa resistir.
Sou demasiado pequena,
frágil em meio às ondas.

Às vezes a morte parece tão próxima,
tudo tão subitamente fútil.
Às vezes espero.

Março. De olhos postos em mim.

Silvia Chueire

domingo, 8 de fevereiro de 2009

vitória

tens as mãos precárias
a marcarem a memória
humanamente física do meu corpo

não as consigo tirar da pele
ainda que o oceano seja imenso
e o tempo absurdamente presente

haverá uma ironia vaga
na vitória da matéria ?


silvia chueire


  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...