terça-feira, 18 de julho de 2006



casuarinas


Vem


Vou-me juntar a ti nesta tarde nascente que queima entre as casuarinas. Ouves o que elas murmuram olhando o mar? Palavras levíssimas a cantar um chamado. Que é nosso. Que não cala.
A tarde a encher-se de formas e sons e corpos.
Resgata-me o corpo, todas as formas e o que há dentro delas. Porque resgatando-as, as poderei oferecer a ti.
Não há pranto a encobrir abismos - talvez um dia houvesse – há um oceano a navegar. Uma ausência de medos e um longínquo cantar de sereias. Tu és a voz, a palavra pela qual percorrerei os abismos sem receio, com o prazer estremecido do desejo.

Tu és o meu delírio mais agudo, porque real. O sentido estabelecido das coisas. Como se repentinamente elas tivessem tomado seus lugares no aleatório do mundo. O sentido, o sentimento, o olhar a abandonar o corpo, onde tudo o mais são inânias e o que prevalece é o desfalecimento da entrega. As vozes vulcânicas que nos tomam, que me tomam.
Toma-me. Estaremos construindo um império de afetos e desejo a sobreviver terremotos. Porque não tememos e não somos cegos. Já sabemos bastante de cegueiras e precipícios. Piso passos cuidadosos contigo. Desabridos e cuidadosos por ti. Não esgotarei teus vícios, eles são tu. Tudo será o nosso vôo.

Neste rio que nos percorre vive uma escrita ancestral, uma palavra única, saída de algum lugar simultaneamente em nós e fora de nós .
Vem, escreve comigo todas as palavras, os gritos, os segredos que só nós sabemos. As mãos e a boca saciando a fome que não finda. Tudo é domarmos o destino, o bridão nas nossas mãos, galope pleno. Qualquer profundidade, a construiremos os dois, com a vida subindo-nos à garganta.
Só colado ao teu , meu corpo se sabe corpo. Por isso para que nada se perca, para que não nos percamos, vem.

Vem...



Silvia Chueire

3 comentários:

K9 disse...

gostei muito!
beijo

Anônimo disse...

Belo, Silvia. Belo! Um beijo.

Francisco Coimbra disse...

Fizeste anos e não me dizias nada? Tens um aliado a bater-me no peito... Quanto ao que leio? Tudo o que possa dizer é paleio, as palavras saem dos dedos e correm, enquanto escorrem. Quando param, deixo-as escorridas e não as colho, esperando as acolhas!

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