quarta-feira, 29 de novembro de 2006


fazer de conta


faço de conta que é outra coisa
e finco os pés nos dias
como se tivesse forças
para colhê-los sozinha.

sempre um dia e outro,
não exatamente iguais,
nem exatamente opostos.

debruço-me sobre o papel,
a caneta carregada de palavras
que se articularão a despeito de mim
feito desconhecidas falando entre si
uma língua cifrada.
escrevo-as.
não há outro caminho.


silvia chueire

terça-feira, 21 de novembro de 2006

dois poemas

interrupted reading - corot






















às vezes


a vida é um sono
- um sonho ? –
imagens difusas e paradas
dias e noites em infusão
no tempo

olhamos para ela
os olhos descrentes
de que possa começar a andar

quando menos percebemos
carrega-nos para além de nós.


silvia chueire





ao modo de fotografar


quando olho sei que fotografo.
descubro a permanência da luz,
a terrível permanência da luz,
suas nuances impressas.

quando olho ao modo de fotografar
incidindo a lâmina da imagem na retina,
na memória a alma da circunstância,
sei que estou cativa.
e um vento frio me percorre o corpo.


silvia chueire

terça-feira, 14 de novembro de 2006

stary night- vincent van gogh













nós

a noite abraça as palavras
e a insônia maternalmente.
acalenta os olhos
- perdidos em pensamentos -
no despropósito de espreitarem
o esboço da lua entre nuvens espessas.

a vida pode ser a noite,
os olhos,
a lua.
nós somos pensamento.


silvia chueire

quinta-feira, 9 de novembro de 2006



















Uma fotografia


Uma fotografia pode ser uma faca profunda
e ácida na pele dos vivos
- se os olhos sentem-se queimados
pelo desconsolo do tempo.

Pode ser um afago a tocar a música
de uma memória que vive
seu lugar inextinguível
- se as mãos preservaram
o sentido do toque.

Uma fotografia pode apenas não ser ;
esvaziada de significado,
morrerá
- assim que desviarmos o olhar.


Silvia Chueire

domingo, 5 de novembro de 2006

a título de despedida

Lisboa- rua do Alecrim


Lisboa- Chiado à noite












Lisboa- O Tejo e a chuva













respirar a cidade

respiro a cidade
com a força de quem não a quer deixar fugir,
a intenção firme de trazê-la
um pouco mais para mim.

não a perder,
tê-la sob a pele.
a luz, o espetáculo do rio,
os telhados
numa alegoria da vida
que percorre as ruas e os sorrisos,
as casas e a melancolia.

respiro a cidade

- o país -
com a determinação de manter a memória
viva, a cidade pulsando
no meu corpo,
os rostos dos amigos brilhando
na noite, as garrafas de vinho
e as palavras ouvidas nos dias.
nos dias o sol e a chuva
a produzirem novas cores.

respiro a cidade
antes de deixá-la,
levo-a comigo.

silvia chueire

  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...