sábado, 30 de junho de 2007

new york city - erik gaugher























o passo adiante

dar o passo adiante
todos os dias.
a náusea causada pelo excesso
a embaraçar-te os pés,
o precipício de cada minuto
a estrangular-te .

o que há de movimento organizado,
aleatório,
ou apenas ansiedade,
no mundo.
nesse excesso gigantesco que é o mundo.

o que há de sem sentido e louco
neste espaço de acasos,
neste espaço de ausências,
de vozes entrecruzadas e surdas,
os desencontros minando tudo.

o que há de vertigem
nas bordas de cada corpo gratuito,
cada minuto afundando-te
na angústia.
nestas horas de impuro silêncio,
sem mãos a te ampararem,
sem olhos a perceberem as mãos.

o que há de repentino terror
no assalto das sensações,
no florescer abrupto dos sentimentos
parados frente ao humano trêmulo
que és,
a desejar a morte.

a morte antes de tudo o mais,
porque a vida é uma impossibilidade constante,
dar o passo adiante um peso insuportável.


silvia chueire

sábado, 23 de junho de 2007

retour a la raison - man ray

























perguntas

qual o destino dos corpos,
pergunto-me,
depois de mastigados pelas horas,
pelos gestos, desde o nascer do sol?
qual o destino dos corpos para além da deterioração,
ou logo antes dela?

qual o destino dos corpos entregues ao amor?
que destino terão depois de deixarem de ser o que são
para transformarem-se num outro
temporário e divino?
qual o destino nostálgico,
a melancolia bruta,
se nunca mais podem ser os deuses que um dia foram?


qual o destino dos corpos abandonados
pelos seus donos
sem propósito ou sentido,
quando nada mais desejam
senão serem o que são
e exercerem-no na sua glória?



silvia chueire

terça-feira, 19 de junho de 2007

ballet dancer- degas

























no desejo

meu corpo sobe nas tuas palavras,
no teu corpo,
alegremente.
dança na palma das tuas mãos
memória e palavras
o mar mergulhado em cada gesto

e morre
e ressuscita
no desejo


silvia chueire

quinta-feira, 14 de junho de 2007

percy thompson
















o sol deita-se

o sol deita-se lentamente
sobre as árvores e as pessoas
numa carícia antiga.
e as arvores e as pessoas deixam-se
dormitar,
embalam-se no calor das vozes
ao longe.

e na luz que se quebra.

silvia chueire

quarta-feira, 6 de junho de 2007



















rubra


há uma rosa rubra na noite
uma rosa de silêncios e segredos

estende-se na madrugada

ninguém sabe das pétalas irisadas
pelo orvalho.

há uma rubra rosa na noite
é tua


silvia chueire

sexta-feira, 1 de junho de 2007





















sobre partir e voltar


partes.
e os meus olhos e ouvidos
ficam a procurar por ti.
o corpo desamparado
inquieta-se,
diz-me coisas inconfessáveis.

voltas .
e é uma festa.
as palavras renovam-se,
os sentidos (re)descobrem o sentido,
o teu sorriso a descer
pelo meu corpo despertado.


silvia chueire

  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...