quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

um dia


um dia o corpo acende os olhos
e tudo aconteceu
não viu Ipanema aos domingos
e o samba na Lapa

um dia o corpo acorda
acendido por uns olhos
ou pelo mar
e acha graça em si mesmo

um dia o corpo ri desatado
na plenitude de o ser
porque o tempo é uma invenção
da qual ninguém escapa

mas tomamos a vida nas mãos
e a bebemos



silvia chueire

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

tantos


o meu corpo
desdobrado em tantos
quantos quisesses

tantos quantos eu quisesse
no alto das tardes
em que nos amávamos

- com a fúria e a paz
de oceanos –


silvia chueire

sábado, 15 de dezembro de 2007

vício


a falta é um vício
a invadir a pele.
um vazio a cantar sem trégua

chamo por ela
como se apelasse,
a um destino imutável.


silvia chueire

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

o passo adiante


dar o passo adiante
todos os dias.
a náusea causada pelo excesso
a embaraçar-te os pés,
o precipício de cada minuto
a estrangular-te .

o que há de movimento organizado,
aleatório,
ou apenas ansiedade,
no mundo.
nesse excesso gigantesco que é o mundo.

o que há de sem sentido e louco
neste espaço de acasos,
neste espaço de ausências,
de vozes entrecruzadas e surdas,
os desencontros minando tudo.

o que há de vertigem
nas bordas de cada corpo gratuito,
cada minuto afundando-te
na angústia.
nestas horas de impuro silêncio,
sem mãos a te ampararem,
sem olhos a perceberem as mãos.

o que há de repentino terror
no assalto das sensações,
no florescer abrupto dos sentimentos
parados
frente ao humano trêmulo que és,
a desejar a morte.

a morte antes de tudo o mais,
porque a vida é uma impossibilidade constante,
dar o passo adiante, um peso insuportável.



silvia chueire

domingo, 9 de dezembro de 2007

Contextualizar


O poema é aleatório e chama.

Não sei porque chama,
porque arde,
nem como as palavras nascem
na cabeça e nas mãos
que se apressam a segui-la.
Nem como se organizam
as pequenas habitações do olhar,
palpitando sonoras,
vivas,
a me empurrarem para ele.
Não sei o modo do som
a me tomar a voz.

Só sei o relâmpago
a encher as folhas de palavras.
A paixão.


Silvia Chueire



quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

dá-me a tua mão


dá-me a tua mão,
para que eu possa decifrar
contigo o mistério
segredado pela noite,
agarrada aos corpos dos amantes.

este mistério que já nos passou,
cada um a seu tempo;
um sopro,
e se perdeu de nós.

dá-me tua mão,
para caminharmos loucamente
a rir do que se foi
e não nos pesa na memória.

dá-me tua mão,
para esquecermos tudo,
no oceano as cabeças
mergulhadas;
os corpos.


silvia chueire

sábado, 1 de dezembro de 2007

sobre acontecer


os dias são um vazio estranho,
tempo sem significado.

os olhos olham perplexos para a vida,
infamiliares com a ausência de acontecimentos.

chove mas não há ruídos,
faz sol mas não há calor,
fala-se e não se ouve voz,
dão-se passos na imobilidade.
tudo é ar parado,
reincidência de rotinas.

as perguntas teimam e teimam,
a nos beliscarem o corpo.

o que é um acontecimento,
a construção do tempo?


silvia chueire

  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...