Se os dias, as palavras, os afetos a subirem-me pela face forem generosos e o meu olhar agudo,talvez escreva um poema, um conto. Por ora são anotações esparsas. In the meadow. Ao som do mar.
quinta-feira, 31 de agosto de 2006
segunda-feira, 28 de agosto de 2006
sexta-feira, 25 de agosto de 2006
sobre morrer - o sangue
terça-feira, 22 de agosto de 2006
a palavra
quinta-feira, 17 de agosto de 2006
Paraty
paraty - II
o vinho cresce na boca
elevado a poema
alonga-se nas mãos
a escrever palavras
sob a água flutuam os olhos
lassos deitam-se na calma da tarde
o presente é mais que a memória
silvia chueire
paraty - III
a cidade acorda
com as crianças e as pessoas
em torno das palavras
livros
e cirandas
sob o céu de agosto
o gosto de cachaça
e frutos do mar
mistura-se ao romance
ao poema
à história dos homens
silvia chueire
segunda-feira, 14 de agosto de 2006
de medo
era um dia de medo sob as nuvens, um dia de música ignorada, o medo nascendo feito jato de água, do peito espalhando-se pelo corpo, a tremer tantos terremotos, a terra fosse revirar-se, a náusea a subir e descer.
era um dia de medo e nestes dias é que renunciamos viver. assim foi.
ela observava, às vezes a murmurar, nunca fora capaz do silêncio de pedra. observava, cada vértebra estremecida, pedindo : não, assim não. cada pensamento voltado para o acontecimento : a vida estancada, parada na borda do caminho à margem árida do que estava por vir.
mas nossas mãos nunca podem remover o medo alheio, por mais que prometam o paraíso. cada um procura o inferno que bem entende.
eram dias de tenebroso terror para os quais ela olhava sem acreditar que poderiam ser. dias de inundações, de ondas desgovernadas, de vozes chocando-se contra as paredes, contra a sua face incrédula.
também temeu. temeu o esquecimento de que eram felizes, tão mais felizes do que podem ser as pessoas no nosso tempo. sabia que a felicidade tem tanto peso quanto a morte, ambas não se deve esquecer.
eram dias de terror inerente. desaguaram em milhares da palavras, numa corrente líquida de palavras desesperadas, de pensamentos a procurar um nexo, qualquer nexo. mas qualquer nexo corria à solta das coisas, chorava-se a lágrima pura da dor.
era ela entre as paredes, a tecer as razões de tudo.
ela , penélope caricatural a repetir perguntas e respostas, tentando entender a turbulência . campos e campos de dor.
não se toma o medo alheio nas mãos e se o desfaz com gestos amorosos.
o medo alheio é uma intrincada floresta de dúvidas que não nos pertencem, de renúncias que não são nossas. nunca renunciou, nunca cedeu ao medo. mas a nossa coragem não é a coragem do outro.
era uma casa tristemente quieta de maio, a sua casa. tapou o seu rosto com a máscara do sorriso, calou sua voz entre as notas de uma qualquer música, e foi vivendo os pedaços da mulher que era, até que os recompusesse um dia. até renascer.
hoje, renascida, pensa : um dia a felicidade há de ser uma coisa natural.
silvia chueire
quarta-feira, 9 de agosto de 2006
a cama
a cama dobrada sobre mim;
silhueta a levar-me
para o verde dos teus olhos
e a ternura colada aos gestos.
o horizonte dos lençóis,
a canção ao fundo,
a recolherem-me aos teus braços,
à memória úmida dos teus braços,
à tua voz suave a dizer-me
quantos oceanos se pode atravessar
numa viagem inequívoca.
silvia chueire
domingo, 6 de agosto de 2006
o poema
como escrever o poema,
quando as palavras não dizem
o que há a ser dito
e dançam sua própria dança louca,
para a qual não tenho estratagema ?
o poema devia nascer naturalmente,
da percepção para algum lugar
sem letras.
linguagem, mas não vocábulo,
a estruturar-se
tocando o âmago das pessoas
e das coisas.
impalpável feito a música,
a beleza da arte;
gesto fugidio e definitivo.
devia dizer-nos muito antes
que o disséssemos,
inscrito no lugar além
da mera humanidade,
sendo ainda essência do humano.
intocável o poema pousaria
em nossos ombros,
levíssimo,
no momento apropriado a acontecer
- apenas tempo suficiente
para nos iluminar.
não sendo matéria
estaria ao mesmo tempo
contido em toda ela,
em qualquer ato.
contido também nos desacatos,
no vinho a descer-nos
a garganta , no riso,
a roubar-nos a razão, roubando o siso.
nas costas flageladas pela tirania,
quando é delas que desliza o pranto,
e há que haver a voz da injúria,
do protesto.
no desejante abraço dos amantes,
quando tudo sorri e comemora.
devia ser encontro , o poema,
silencioso e só, conosco mesmos.
na busca incessante da poesia,
em qualquer gesto feito a esmo.
encontro de silêncios
e de ritmo,
oculto dos olhares das pessoas.
a flor
- desdita , mas presente -
que surge feito coisa à toa,
em sendo da nossa alma o afluente.
silvia chueire
quarta-feira, 2 de agosto de 2006
Caos Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo. Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...
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imagem : anne leibovitz a mesma canção nas dobras do amor - samba, choro, blues cantado na madrugada, seda transformando-se em mãos, lábio...
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Dobra-se o tempo. Num arrepio as coisas não estão mais lá; tudo é realidade sobre realidade. Nossa ingenuidade - arrogân...
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