quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Balé

Um balé com as pílulas,

uma qualquer idéia de esperança metida nelas



Até o fundo do fundo.

Tuas mãos

vazias.




Silvia Chueire

sábado, 4 de dezembro de 2010

O som do trompete

O som do trompete em surdina

toca as palavras e as empurra

para a beira dos lábios.



Há ritmo no sangue acelerado,

música em uníssono.



O poema também é isto.



Silvia Chueire

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Imersa

Há uma palavra imersa em meus sentidos,

um poema que não se pode dizer.



Faz do meu corpo seu país,

deita versos desalinhados

sobre mim.



Depois voa,

seu vôo de canção.



Silvia Chueire

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Nasce

Nasce, na opacidade das horas,

uma qualquer canção .



Uma palavra inquieta

a remexer-se:

um poema.



Silvia Chueire

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Afronta

A insônia rebatida

nas casas banhadas

de sol

tem a marca

melancólica

do afastamento das coisas.


A beleza pode ser uma afronta.


Silvia Chueire

domingo, 2 de maio de 2010

Hoje

É hoje o desabrochar da vida.

Esta conjunção
de palavras, pensamentos
e taquicardias.


Silvia Chueire

Tenho os pensamentos enredados
na grandeza da noite,
ela os empurra e confunde.

Meu corpo é um só contra o tempo e
tantas vezes se encolhe na angústia
de ignorar
o próximo fato definitivo.

Pó a temer pó.


Silvia Chueire

segunda-feira, 22 de março de 2010

levitar

o corpo levita
no centro da memória.
as mãos agem no claro-escuro
a enveredarem pela festa de imagens, sons.

levitam as palavras.

os olhos pensam que tudo é ilusão,
mas o corpo enlevado
se recusa a ouvi-los
e rodopia eufórico.

tomba a lógica
na claridade do mais dia dos dias:

tudo é como devia ser.

silvia chueire

sexta-feira, 5 de março de 2010

nesta noite

entro nesta noite
com a navalha atravessada
nos dentes

os olhos procuram o mais agudo
da madrugada

a adrenalina arrepia
por baixo da pele

a palavra é fatal


silvia chueire

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lanças

Lanças o gesto:
asa a debater-se,
foice rasgando o pensamento,
olhos esquecidos de o serem.


Lanças a palavra:
arma mortal,
perdida na carne,
no cerne do outro.

Gesto e palavra :
um só fim.


Silvia Chueire

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Todos os dias

Todos os dias murmuras uma prece,
os lábios concentrados
em movimentos miúdos.

Todos os dias dizes seu nome sem perceberes.
Gravado na pedra da memória,
ele te vem à boca,
em chamas.

Todos os dias estremeces
a despeito da tua indiferença.
Inconfidente,
teu corpo te lembra que existes.

Silvia Chueire

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Acabar

O poema não sabe
se o ano está acabando
e desembaraça palavras
há muito caladas no meu peito.

Perco-me entre elas,
a baterem-me sobre os olhos
feito música,
e o tempo
- que pode ser todo ou nenhum,
mas pulsa.


Silvia Chueire


sábado, 2 de janeiro de 2010

Reveillon

Tenho os olhos mergulhados no céu
e flutuando pelo champanhe recém aberto;
Paco de Lucia dedilha Río de La Miel
e o poema vai tomando seu lugar entre os meus dedos.

Entre os meus dedos e a tela e a palavra e o desejo.

Lá fora o frisson dos fogos de artifício,
a ansiedade, a festa arrebatam a cidade.

Aqui a guitarra, castanholas
e a mulher a colher umas palavras.


Silvia Chueire

  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...