sexta-feira, 27 de abril de 2007






















flamenco


dai-me uma guitarra
um flamenco a contagiar-me
uma guitarra para os meus braços
e ancas dançarem livres

uma carmem
as cordas rascantes, as palmas
e os tacos a marcarem o solo
e o ritmo.

o ritmo na ponta do corpo

um copo de vinho
bebido sobre o riso
e as mãos a marcarem
a intenção de matar
ou morrer
de amor

a vida da música
dai-me


silvia chueire

domingo, 22 de abril de 2007

fingir


agarro-me à memória
de um dia,
da tua boca,
dos teus dedos.

perco-me no quarto,
a insônia a enrolar-se
nas minhas pernas,
eu a fingir que é o poema,
a voz a dizer-me vem.

e finjo magistralmente.
meus dedos pensam
que são teus
e adivinho
todos os teus passos,
neste corpo que recusa o silêncio.


silvia chueire

quarta-feira, 18 de abril de 2007

woman writing in book - georges de feure


















ainda a noite

a noite acolhe tão bem a dor
entre suas sombras ocultamos
qualquer coisa desamparada
qualquer coisa inevitavelmente lúcida


silvia chueire

sexta-feira, 13 de abril de 2007

paula rego - choke



















comum

tudo é comum como um sapato velho.

passada a graça,
os olhos mergulhados na bebedeira,
espancar a mulher
no alto da madrugada,

e virar o ronco para o canto.

depois dizer :
desculpa-me.


silvia chueire

domingo, 8 de abril de 2007

Bernard Tate - Free as a Bird














uma mulher


para eliane stoducto


uma mulher paira sobre a vida.
nas canções , nas palavras,
nos filhos ,
em cada passo
de um caminho árduo.

esta mulher, sua vitória
arrancada aos dias,
o sorriso, a franqueza
e as mãos generosas ofertadas,
dorme no coração do mundo.


ah rever-te o riso aberto,
a força,
a face iluminada.

adeus é uma palavra dura.

silvia chueire

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Klimt - Danae

















tua boca

tua boca é o meu sonho
a caminhar, passos lépidos
pelo meu corpo.

é o teu desejo ,
o meu desejo, chuva miúda
a chover pelo meu ventre abaixo.

silvia chueire

  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...