terça-feira, 30 de janeiro de 2007

















teus olhos



teus olhos escalam um mundo
quando se intrometem entre as minhas
palavras – seriam pernas?-

a trazerem o oceano
que sempre me habitou
sereno e furioso
antes de o navegares
e o tomares
e o tornares teu



your eyes

your eyes climb a world
when they dive
into my words
- or would it be legs?-
bringing the ocean
that has always lived in me
- serene and furious-
before you you sailed it
and took it
and turned it yours



silvia chueire





sábado, 27 de janeiro de 2007















surpresa


sentas sobre mim os olhos quietos,
a cara crivada de perguntas,
e na calma esperas
que eu te diga a verdade dos humanos

não tenho nas mãos a verdade.

a verdade sobe delirante
pelos elevadores da megalópole,
pela megalomania dos loucos,
e foge de nós.

tenho nas mãos a angústia,
alguma lucidez reservada,
e agarrada na face a surpresa cotidiana
do homem: sua grandeza impensável,
sua insuportável pequenez.


silvia chueire

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

os amantes- magritte















em nome do amor


todos os gestos enganosos
- a mentira, a hipocrisia,
o drama inventado,
a voz supostamente trêmula -
cometidos em nome do amor,
pretendem perdão.

mesmo a mão que agride,
a palavra que manipula,
que tira proveito.
mesmo a arma que mata.

descaradamente pretendem perdão
- como se o amor fosse um pulha
a enganar-nos todos.


silvia chueire

sábado, 20 de janeiro de 2007





















em pedra


tentas transformar em pedra
o que é sentimento
com a tenacidade de um alquimista
em busca da secreta fórmula,
além – ou aquém, não sei – dos átomos.

talvez consigas,
talvez o mundo te seja prodigioso
e te mostre a face mágica.

pessoalmente acho vão esforço.
pessoalmente, eu, que não creio em magias,
quedo a cabeça sobre as almofadas,
a pensar, enquanto um blues galga as paredes:

esta tenacidade no amor seria preciosa.


silvia chueire


terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Árabes XXXVI



















inverno

o inverno desliza
no corpo que espera.

quanto frio ainda haverá,
antes que ele chegue
e de novo as rosas desabrochem
e com elas a cor pinte meu rosto?

desde que se foi o meu amado
não há almíscar,
o perfume desertou a vida,
o vinho não sabe a prazer.
já não me acolhe, a noite,
é escuridão sem voz .

o vento não se oculta no deserto,
nem fala aos meus quadris
nenhuma dança.

desde que se foi o meu amado
o inverno não se cansa de ser eu.

silvia chueire

sábado, 13 de janeiro de 2007
















de outono


tenho olhos para ver
os teus olhos de outono
a me falarem na distância,
teus gestos.

é sempre outono,
a nossa estação.
as horas correm entre as árvores
do lugar onde te espero.


silvia chueire

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

strangled woman - cézanne
















fazer morrer


se a morte andava pelas tuas mãos
não era de propósito.
descuidado, era seu modo de andar.

também tu a chamavas inadvertidamente
teu amor por ela era maior
do que todos ao teu redor

o que poderias fazer
desta paixão pelo avesso da vida,
pelo avesso do afeto?


silvia chueire

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007






















(im)possível

era uma lua alta sobre a chuva
e os fogos
e a cidade em combustão.
era uma lua oculta,
uma lua silenciosa,
uma quase-palavra que eu diria a ti,
um gesto.

repentinamente horas
em que tudo parece ontem
e estou suspensa em segundos mudos
sob o grito da noite e das pessoas.

só eu sei a palavra (im)possível.


silvia chueire



  Caos   Pandemônio instalado; as pessoas agarram sua sanidade a correr rua abaixo.   Há uma cachoeira -de mentes – a galope n...