a espera
havia apenas o mar nos olhos, uma vaga aflição e a espera amorosamente tecida nas canções, quando a lâmina tirou-lhe a voz da garganta e o oceano do peito. de um só golpe decepou-lhe a realidade e o sonho.
todas as justificativas para a dor são injustificadas quando o amor é óbvio e olha com olhos de esperança. recapitulados os dias perfeitos, impecáveis, indescritíveis dias de fascínio, nada mudou. como se um furacão de acontecimentos não a tivesse surpreendido.
"entre as quatro paredes do meu peito, só eu sei. só eu sei o que espero e o que desespero", foi a única pista rara vez sussurrada a alguém.
no mais, permanece sentada à mesma janela de sempre. diz coisas incompreensíveis vez em quando. lê um livro.ouve música. olha em torno como se acordasse do sono, entoa alguma canção qualquer, vai e volta, sorri, diz às pessoas coisas gentis, prováveis. mas permanece lá, nas noites inquietas, a conversar com ele que já não está. a espera, o desespero, raramente visíveis.
na sala, no quarto, no corpo, em todo lado os sinais da vida desfeita, que só ela sabe.
silvia chueire
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