tempo I
colhe um sorriso sobre o tempo,
não te esqueças.
ninguém dirá em sã consciência
que a praia iluminada era eu,
mas tu sabes.
tempo II
não fales do teu tempo
fales das coisas a despeito dele;
em breve sobrevirá a noite,
as mãos e a boca paralisadas.
e tu serás
e não serás o mesmo.
silvia chueire
Se os dias, as palavras, os afetos a subirem-me pela face forem generosos e o meu olhar agudo,talvez escreva um poema, um conto. Por ora são anotações esparsas. In the meadow. Ao som do mar.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
amor?
deito-me sobre tantas coisas inúteis
e me pergunto o que valerá
todo o esforço?
este poema banal
- qualquer deles -
trata-se de traduzir o intraduzível?
a avalanche de microacontecimentos
despencando pelo nosso dorso,
a pele respondendo elétrica;
entre os dedos a escapar-nos;
sob os olhos,
através dos nossos sexos,
e do cataclismo do gozo,
dos corpos,
ou dos pensamentos, que correm
à busca de significado.
o que valerá a minha presença sem sentido
neste mar de sentidos a entrechocarem-se,
neste caos, sem linguagem que o signifique
a não ser o amor que vivi,
vivo,
viverei?
silvia chueire
e me pergunto o que valerá
todo o esforço?
este poema banal
- qualquer deles -
trata-se de traduzir o intraduzível?
a avalanche de microacontecimentos
despencando pelo nosso dorso,
a pele respondendo elétrica;
entre os dedos a escapar-nos;
sob os olhos,
através dos nossos sexos,
e do cataclismo do gozo,
dos corpos,
ou dos pensamentos, que correm
à busca de significado.
o que valerá a minha presença sem sentido
neste mar de sentidos a entrechocarem-se,
neste caos, sem linguagem que o signifique
a não ser o amor que vivi,
vivo,
viverei?
silvia chueire
terça-feira, 18 de novembro de 2008
névoa
uma névoa de pestanas
e sentidos
vêm-me os olhos,
quando levantas suavemente
o lençol
que me cobre.
tua mão, o tecido,
são o poema a percorrer meu corpo.
silvia chueire
e sentidos
vêm-me os olhos,
quando levantas suavemente
o lençol
que me cobre.
tua mão, o tecido,
são o poema a percorrer meu corpo.
silvia chueire
sábado, 1 de novembro de 2008
tentação
às vezes escreves um verso,
na tentação dos afetos te escaparem
pelos dedos.
não, pensas.
teus versos hão que refletir
apenas a vida que sobe
pelas escarpas de granito
e cresce entre as folhas das árvores.
mas o que fazer
se a ternura derrama-te pelos olhos?
silvia chueire
na tentação dos afetos te escaparem
pelos dedos.
não, pensas.
teus versos hão que refletir
apenas a vida que sobe
pelas escarpas de granito
e cresce entre as folhas das árvores.
mas o que fazer
se a ternura derrama-te pelos olhos?
silvia chueire
terça-feira, 21 de outubro de 2008
descansarei
o mar e a música moura
impregnando as paredes
a torre antiga da igreja esbatida ao sol
e a casa abandonada a esperar.
um dia lá descansarei, pensaste.
silvia chueire
impregnando as paredes
a torre antiga da igreja esbatida ao sol
e a casa abandonada a esperar.
um dia lá descansarei, pensaste.
silvia chueire
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
pequeno pássaro
a mão é um pequeno pássaro
tocando a flor de laranjeira
pássaro e flor:
poema inesperado desabrochando
sob o sol nascente
silvia chueire
tocando a flor de laranjeira
pássaro e flor:
poema inesperado desabrochando
sob o sol nascente
silvia chueire
domingo, 28 de setembro de 2008
inesqueço
a visão do teu sorriso
pousado nos meus olhos
nas minhas mãos
a calma a fúria
o desejo marítimo
nos corpos banhados de luz
silvia chueire
pousado nos meus olhos
nas minhas mãos
a calma a fúria
o desejo marítimo
nos corpos banhados de luz
silvia chueire
domingo, 21 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
partido
há no sorriso partido uma tristeza de punhal.
pássaro a bater-se contra o vidro.
o corpo contra a parede
se pergunta qualquer coisa,
todas as coisas.
em vão.
a mão que naufraga o amor
nada responde.
silvia chueire
pássaro a bater-se contra o vidro.
o corpo contra a parede
se pergunta qualquer coisa,
todas as coisas.
em vão.
a mão que naufraga o amor
nada responde.
silvia chueire
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
de sede
meu lugar de sede
se alça sobre o tempo
e diz apenas um nome,
uma água como se fosse nome,
um nome feito um contraditório,.
silvia chueire
se alça sobre o tempo
e diz apenas um nome,
uma água como se fosse nome,
um nome feito um contraditório,.
silvia chueire
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Deserta
Caminhas na tua angústia enclausurada
no apartamento às três e cinco da manhã
e dizes : basta!
A cidade e o mar te olham desesperançados,
teus olhos se encontram com os deles a cada poema
que te escapa .
O sangue sobe-te à face,
não sabes se estás zangado
ou triste.
Algo te martela a pele
a pedir-te expressão,
sem possibilidades.
Não, dizes. Basta!
Mas dizer basta não te acalma a inquietude,
desejas o poema.
Afinal, o que é o poema
senão a tua voz a mostrar-te
que há vida ?
Calas-te.
Nada podes fazer,
não sabes onde se encontra o poema;
sequer sabes onde te encontras
na vida repentinamente deserta.
Silvia Chueire
no apartamento às três e cinco da manhã
e dizes : basta!
A cidade e o mar te olham desesperançados,
teus olhos se encontram com os deles a cada poema
que te escapa .
O sangue sobe-te à face,
não sabes se estás zangado
ou triste.
Algo te martela a pele
a pedir-te expressão,
sem possibilidades.
Não, dizes. Basta!
Mas dizer basta não te acalma a inquietude,
desejas o poema.
Afinal, o que é o poema
senão a tua voz a mostrar-te
que há vida ?
Calas-te.
Nada podes fazer,
não sabes onde se encontra o poema;
sequer sabes onde te encontras
na vida repentinamente deserta.
Silvia Chueire
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
o tédio
o tédio pode ser um vício
e a TV
e as pernas sobre o sofá da sala
- emaranhadas nos jornais
não lidos –
e os cabelos desesperadamente
em desalinho
- absoluta falta de música –
e o círculo repetitivo dos dias
silvia chueire
e a TV
e as pernas sobre o sofá da sala
- emaranhadas nos jornais
não lidos –
e os cabelos desesperadamente
em desalinho
- absoluta falta de música –
e o círculo repetitivo dos dias
silvia chueire
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
o sol
o sol nascia no meu peito
iluminando-me a face,
lembras-te?
podia(s) senti-lo a tocar-me a pele.
podia(s) sabê-lo
no sorriso mais livre
que jamais me aconteceu.
silvia chueire
iluminando-me a face,
lembras-te?
podia(s) senti-lo a tocar-me a pele.
podia(s) sabê-lo
no sorriso mais livre
que jamais me aconteceu.
silvia chueire
terça-feira, 29 de julho de 2008
puro
há as folhas elevadas
sobre o cinza da tarde
os pensamentos aquecidos
pelo mormaço
olhas em torno
sem suspeitar do mundo
- por instantes tudo é puro -
silvia chueire
sobre o cinza da tarde
os pensamentos aquecidos
pelo mormaço
olhas em torno
sem suspeitar do mundo
- por instantes tudo é puro -
silvia chueire
domingo, 27 de julho de 2008
um silêncio
há um silêncio escavado
no meio da pedra,
silêncio escavado
no meio da vida.
tão fundo, tão fundo,
é um grito .
silvia chueire
no meio da pedra,
silêncio escavado
no meio da vida.
tão fundo, tão fundo,
é um grito .
silvia chueire
sexta-feira, 18 de julho de 2008
hoje
tua alma estremecia
em meio à música de ontem,
o horizonte era ritmo e sol.
hoje é um dia suspenso,
assombra-te o silêncio,
a ausência de gestos,
o chumbo dos dias,
o lugar comum.
só o que tens são palavras,
a alma escapou-te.
silvia chueire
em meio à música de ontem,
o horizonte era ritmo e sol.
hoje é um dia suspenso,
assombra-te o silêncio,
a ausência de gestos,
o chumbo dos dias,
o lugar comum.
só o que tens são palavras,
a alma escapou-te.
silvia chueire
terça-feira, 8 de julho de 2008
reconhecer
um corpo lembra com exatidão
outro corpo.
reconhece-o por sobre o tempo,
quando aquele é seu lugar definitivo.
silvia chueire
outro corpo.
reconhece-o por sobre o tempo,
quando aquele é seu lugar definitivo.
silvia chueire
quinta-feira, 3 de julho de 2008
sob as pálpebras
um mundo sob as pálpebras
a agitar-se na madrugada
palavras gestos
interrogações
e o teu silêncio
angústia e memória
a se atirarem incessantes
no lago dos olhos
silvia chueire
a agitar-se na madrugada
palavras gestos
interrogações
e o teu silêncio
angústia e memória
a se atirarem incessantes
no lago dos olhos
silvia chueire
sábado, 21 de junho de 2008
tornar-se
a pétala desdobra
sua canção acetinada
e rubra
contra o sol
a nascer dentro dela
torna-se uma rosa
quando me toca os olhos
silvia chueire
sua canção acetinada
e rubra
contra o sol
a nascer dentro dela
torna-se uma rosa
quando me toca os olhos
silvia chueire
sábado, 14 de junho de 2008
é noite
a lua deitada no Tejo
abre a estrada delirante ao poema
quando a vida bate às nossas costas,
rápida,
e temos palavras coladas a nós.
o vinho faz subirem as vozes
no meio da noite
e o afeto nos ilumina.
súbito tudo parece resolvido,
nossas mãos dadas cantam na desordem do mundo.
silvia chueire
abre a estrada delirante ao poema
quando a vida bate às nossas costas,
rápida,
e temos palavras coladas a nós.
o vinho faz subirem as vozes
no meio da noite
e o afeto nos ilumina.
súbito tudo parece resolvido,
nossas mãos dadas cantam na desordem do mundo.
silvia chueire
sábado, 7 de junho de 2008
o medo nas mãos
a mulher com o medo nas mãos,
na vida é apenas uma chama frágil
a esperar que o mundo lhe consuma.
o medo apertado na garganta,
a voz inexistente.
cantam os pássaros,
tudo está aceleradamente de passagem.
silvia chueire
na vida é apenas uma chama frágil
a esperar que o mundo lhe consuma.
o medo apertado na garganta,
a voz inexistente.
cantam os pássaros,
tudo está aceleradamente de passagem.
silvia chueire
sexta-feira, 30 de maio de 2008
sobre o corpo
ainda o corpo domina a cena
fala, diz o poema,
estende-te no desejo,
eleva-te na ternura,
na tua razão de ser corpo.
vive, diz o poema,
acima do que é banal
e pouco e raso.
são estes os dias
nos quais viver tem significado.
liberta-te, diz o poema,
e ama.
este é o teu destino.
silvia chueire
fala, diz o poema,
estende-te no desejo,
eleva-te na ternura,
na tua razão de ser corpo.
vive, diz o poema,
acima do que é banal
e pouco e raso.
são estes os dias
nos quais viver tem significado.
liberta-te, diz o poema,
e ama.
este é o teu destino.
silvia chueire
quarta-feira, 21 de maio de 2008
mentiras
como calar a voz, o corpo, a vida,
se tudo que bate no meu peito
é assombroso e vibra?
como inventar caminhos,
tecer estratégias,
se o desejo, a pele, a angústia,
que são meus são teus?
um dia eu paro de escrever poemas.
por ora faço assim:
digo mentiras.
silvia chueire
se tudo que bate no meu peito
é assombroso e vibra?
como inventar caminhos,
tecer estratégias,
se o desejo, a pele, a angústia,
que são meus são teus?
um dia eu paro de escrever poemas.
por ora faço assim:
digo mentiras.
silvia chueire
paris
para minha mãe
tenho esta cidade geneticamente
pregada na alma
revê-la é sorrir contigo,
cúmplice,
a cidade a abraçar-nos.
e minha súbita alegria
é também tua.
silvia chueire
tenho esta cidade geneticamente
pregada na alma
revê-la é sorrir contigo,
cúmplice,
a cidade a abraçar-nos.
e minha súbita alegria
é também tua.
silvia chueire
segunda-feira, 5 de maio de 2008
a cidade
a cidade sobe-me pelos dedos
e escreve o poema
canta uma canção ao sol
que surge tímido
entre as teclas dos acordeons
e as torres elevadamente límpidas das igrejas
silvia chueire
e escreve o poema
canta uma canção ao sol
que surge tímido
entre as teclas dos acordeons
e as torres elevadamente límpidas das igrejas
silvia chueire
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Diria o mar
Não sei como dirias este mar
onde o sol de entre as nuvens se absorve
em clamores de espuma luminosa
N.D.
Diria o mar como um deslimite,
um universo onde criaturas voam
um bailado de liberdade.
Nós as olhamos,
feito seres impotentes.
Olhamos para cima
as ondas que se elevam e despencam.
Netuno tem um reino
que divino, mas humano, nos entrega
incondicionalmente.
Nunca sabemos bem o que fazer com ele,
a grandeza a erguer-se ou mergulhar
aos nossos olhos pequenos.
Diria o mar como uma imensidão,
acima e abaixo dos desertos,
das rochas,
da terra onde bate incessante
e à qual pertencemos
tão breves quanto a chama de uma vela.
Silvia Chueire
onde o sol de entre as nuvens se absorve
em clamores de espuma luminosa
N.D.
Diria o mar como um deslimite,
um universo onde criaturas voam
um bailado de liberdade.
Nós as olhamos,
feito seres impotentes.
Olhamos para cima
as ondas que se elevam e despencam.
Netuno tem um reino
que divino, mas humano, nos entrega
incondicionalmente.
Nunca sabemos bem o que fazer com ele,
a grandeza a erguer-se ou mergulhar
aos nossos olhos pequenos.
Diria o mar como uma imensidão,
acima e abaixo dos desertos,
das rochas,
da terra onde bate incessante
e à qual pertencemos
tão breves quanto a chama de uma vela.
Silvia Chueire
quarta-feira, 23 de abril de 2008
o sol
elevamo-nos solares
algum dia,
em alguma terra habitada pelas oliveiras.
tinhas as mãos cheias de mim
aproximavas teus lábios dos meus cabelos
e me dizias tudo,
depois depositava-os nos meus ombros.
éramos o sol ,
a exaltação da vida.
silvia chueire
algum dia,
em alguma terra habitada pelas oliveiras.
tinhas as mãos cheias de mim
aproximavas teus lábios dos meus cabelos
e me dizias tudo,
depois depositava-os nos meus ombros.
éramos o sol ,
a exaltação da vida.
silvia chueire
segunda-feira, 14 de abril de 2008
há um corpo
há um corpo à tua espera
um corpo e um conjunto de signos
nas mãos espalmadas
a te oferecerem o riso,
as avencas na pele,
o perfume.
há um corpo, um copo de vinho
ao pé da lareira,
no silêncio do lume.
silvia chueire
um corpo e um conjunto de signos
nas mãos espalmadas
a te oferecerem o riso,
as avencas na pele,
o perfume.
há um corpo, um copo de vinho
ao pé da lareira,
no silêncio do lume.
silvia chueire
sexta-feira, 11 de abril de 2008
um sonho
era um sonho leve
um sonho
xxxxxum pássaro de asas de fogo
era um sonho em combustão
suspensos sobre ele
xxxxxos corpos marejados
era um sonho leve
podia-se
carregá-lo com alegria
a um pássaro assim
não se cortam
xxxxxas asas
não se entrega
xxxxxà própria sorte
era um pássaroxxxxeste sonho
e sua conseqüência
em vôo
xxxxxa culminar no espaço
éramos nós
percebi claramente
xxxxxantes de morrer
silvia chueire
um sonho
xxxxxum pássaro de asas de fogo
era um sonho em combustão
suspensos sobre ele
xxxxxos corpos marejados
era um sonho leve
podia-se
carregá-lo com alegria
a um pássaro assim
não se cortam
xxxxxas asas
não se entrega
xxxxxà própria sorte
era um pássaroxxxxeste sonho
e sua conseqüência
em vôo
xxxxxa culminar no espaço
éramos nós
percebi claramente
xxxxxantes de morrer
silvia chueire
segunda-feira, 7 de abril de 2008
domingo
domingo os meus olhos dormem de ti
as horas andam lentamente sob a chuva
adormecida a urgência
o mundo descansa pacífico
- quase não respira -
silvia chueire
domingo
domingo mis ojos se duermen de ti
las horas caminan despacio bajo la lluvia
adormecida la urgencia
el mundo descansa pacífico
- casi no respira -
silvia chueire
as horas andam lentamente sob a chuva
adormecida a urgência
o mundo descansa pacífico
- quase não respira -
silvia chueire
domingo
domingo mis ojos se duermen de ti
las horas caminan despacio bajo la lluvia
adormecida la urgencia
el mundo descansa pacífico
- casi no respira -
silvia chueire
quinta-feira, 3 de abril de 2008
meu país
meu país era uma alma desolada
e funda
um corpo esquecido em meio
aos tamborins do samba.
silvia chueire
e funda
um corpo esquecido em meio
aos tamborins do samba.
silvia chueire
segunda-feira, 31 de março de 2008
quinta-feira, 27 de março de 2008
dois poemas curtos
cimitarra
a lua é uma cimitarra
rasga o céu
sangra no mar
tudo mais
é silêncio
silvia chueire
plausível
a sombra da tua ausência
a conversar comigo
na hora inusitada do dia
como se fosse ela
- ou eu? -
a (ir)realidade mais plausível
silvia chueire
a lua é uma cimitarra
rasga o céu
sangra no mar
tudo mais
é silêncio
silvia chueire
plausível
a sombra da tua ausência
a conversar comigo
na hora inusitada do dia
como se fosse ela
- ou eu? -
a (ir)realidade mais plausível
silvia chueire
domingo, 23 de março de 2008
pássaros e peixes
nossas bocas mergulhadas,
nossos sexos,
elevando-nos
a pássaros ou peixes
no corte agudo do tempo.
silvia chueire
nossos sexos,
elevando-nos
a pássaros ou peixes
no corte agudo do tempo.
silvia chueire
quinta-feira, 20 de março de 2008
dois poemas curtos
lembrança
às vezes a tua lembrança é suave
apenas pousa na tarde
e acaricia a minha pele.
silvia chueire
desalento
quantos corpos percorrerás
desalentado
por não me encontrares
neles?
silvia chueire
às vezes a tua lembrança é suave
apenas pousa na tarde
e acaricia a minha pele.
silvia chueire
desalento
quantos corpos percorrerás
desalentado
por não me encontrares
neles?
silvia chueire
segunda-feira, 17 de março de 2008
encontro
meu corpo é líquido
a água é seu meio natural
não seu habitat
ou um retorno no tempo
o mergulho do corpo na água é o encontro
a indizível sensação de pertinência
silvia chueire
a água é seu meio natural
não seu habitat
ou um retorno no tempo
o mergulho do corpo na água é o encontro
a indizível sensação de pertinência
silvia chueire
domingo, 16 de março de 2008
um poema de 2004
se
se todas as palavras forem gestos
e todos os gestos, corpo e alma
e todo corpo e alma for delírio
e todo delírio, gozo
e todo gozo for abismo
e todo abismo, nossa natureza
e toda natureza for palavras
e todas as palavras novamente gestos
e todos os gestos, canções
e todas as canções, amor
e todo o amor for vida
e toda vida for suspiro
e todos os suspiros, sentimento
e todo sentimento, poema
e todo poema, o sentido
ajoelhado frente à brevidade
de todas as coisas
aí então, tudo terá valido a pena
silvia chueire
se todas as palavras forem gestos
e todos os gestos, corpo e alma
e todo corpo e alma for delírio
e todo delírio, gozo
e todo gozo for abismo
e todo abismo, nossa natureza
e toda natureza for palavras
e todas as palavras novamente gestos
e todos os gestos, canções
e todas as canções, amor
e todo o amor for vida
e toda vida for suspiro
e todos os suspiros, sentimento
e todo sentimento, poema
e todo poema, o sentido
ajoelhado frente à brevidade
de todas as coisas
aí então, tudo terá valido a pena
silvia chueire
quarta-feira, 12 de março de 2008
hibiscos
quinta-feira, 6 de março de 2008
nem uma palavra
nem uma palavra se move
entre as minhas mãos,
nem acena um gesto;
o silêncio é uma longa noite sem lua.
ladram lá fora os cães
inquietos com o escuro
e as sombras que se movem no escuro
à luz escassa de uma janela solitária.
cá dentro ladra a angústia.
na calada das horas
mesmo o pensamento é furtivo.
tudo é ausência, sem recurso.
silvia chueire
entre as minhas mãos,
nem acena um gesto;
o silêncio é uma longa noite sem lua.
ladram lá fora os cães
inquietos com o escuro
e as sombras que se movem no escuro
à luz escassa de uma janela solitária.
cá dentro ladra a angústia.
na calada das horas
mesmo o pensamento é furtivo.
tudo é ausência, sem recurso.
silvia chueire
domingo, 2 de março de 2008
dois poemas breves
tocar
tens as mãos não-mãos
a língua as palavras
o sonho
que me tocam
tanto
e tão
inevitavelmente
silvia chueire
jasmins
é madrugada, o verão ignora
que o inventamos
e o inesperado perfume dos jasmins
cola-se às calçadas, às pessoas,
desatando a memória de outras noites.
no sorriso do reencontro
com a cidade, o encantamento.
silvia chueire
tens as mãos não-mãos
a língua as palavras
o sonho
que me tocam
tanto
e tão
inevitavelmente
silvia chueire
jasmins
é madrugada, o verão ignora
que o inventamos
e o inesperado perfume dos jasmins
cola-se às calçadas, às pessoas,
desatando a memória de outras noites.
no sorriso do reencontro
com a cidade, o encantamento.
silvia chueire
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
alegria
o poema
tantas vezes hesita,
tantas vezes estremece nas minhas mãos
a procurar palavras.
é grande a alegria
quando se deposita nelas.
silvia chueire
tantas vezes hesita,
tantas vezes estremece nas minhas mãos
a procurar palavras.
é grande a alegria
quando se deposita nelas.
silvia chueire
sábado, 23 de fevereiro de 2008
fim da tarde
ao fim da tarde
os olhos, pálpebras semicerradas,
são também crepúsculo,
corpo entregue ao amor.
cores sobre o mundo,
dia, noite,
riso e sussurro.
silvia chueire
os olhos, pálpebras semicerradas,
são também crepúsculo,
corpo entregue ao amor.
cores sobre o mundo,
dia, noite,
riso e sussurro.
silvia chueire
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
tocas-me
tocas-me
e és um inesperado rio
a me atravessar
um inesperado sorriso
tocas-me
e para além do desejo
tenho a ternura nas mãos
silvia chueire
e és um inesperado rio
a me atravessar
um inesperado sorriso
tocas-me
e para além do desejo
tenho a ternura nas mãos
silvia chueire
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
esqueces
baixas as pálpebras
para que teus olhos não me vejam.
esqueces que vivo dentro deles
(hesitei tantos séculos
até me aventurar por estes precipícios).
silvia chueire
para que teus olhos não me vejam.
esqueces que vivo dentro deles
(hesitei tantos séculos
até me aventurar por estes precipícios).
silvia chueire
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Flores ou facas
Cabem flores ou facas
no meu pensamento.
Fio ou perfume a nascerem
conforme o dia.
Tomo ambos com o mesmo cuidado;
ambos têm uma fraqueza
irrecusável.
Silvia Chueire
no meu pensamento.
Fio ou perfume a nascerem
conforme o dia.
Tomo ambos com o mesmo cuidado;
ambos têm uma fraqueza
irrecusável.
Silvia Chueire
sábado, 2 de fevereiro de 2008
contíguos :
pássaros
I
voa um pássaro agudo
contra o céu
da cidade incendiada
seguem-no os olhos
e a pele
no auge do verão
---------------------------
II
meu corpo é um pássaro agudo
sob o céu de verão
mergulha no mar
na vertigem
hoje como se fosse sempre
silvia chueire
I
voa um pássaro agudo
contra o céu
da cidade incendiada
seguem-no os olhos
e a pele
no auge do verão
---------------------------
II
meu corpo é um pássaro agudo
sob o céu de verão
mergulha no mar
na vertigem
hoje como se fosse sempre
silvia chueire
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
domingo
um dia pode parecer um ano
se olho para a pujança da mata
a ser invadida pelas casas
as nuvens pesam sobre o morro
e há tanto a dizer
mas o silêncio anda colado ao tempo
e pesa com o domingo
silvia chueire
se olho para a pujança da mata
a ser invadida pelas casas
as nuvens pesam sobre o morro
e há tanto a dizer
mas o silêncio anda colado ao tempo
e pesa com o domingo
silvia chueire
sábado, 26 de janeiro de 2008
minha
tua lâmina me acaricia o pescoço,
desce-me pelo colo,
toca-me o ventre.
a lâmina do teu desejo
é minha.
silvia chueire
desce-me pelo colo,
toca-me o ventre.
a lâmina do teu desejo
é minha.
silvia chueire
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
dois poemas curtos
última
uma última palavra no ano
martela os minutos
uma palavra esculpida
pelo vento
adeus
teu país
pronunciei ternamente
o nome do teu país
ele era meu
na combustão da tarde
silvia chueire
uma última palavra no ano
martela os minutos
uma palavra esculpida
pelo vento
adeus
teu país
pronunciei ternamente
o nome do teu país
ele era meu
na combustão da tarde
silvia chueire
domingo, 20 de janeiro de 2008
nada fica no tempo
nada fica no tempo
nem a memória do riso
a sacudir-me de puro prazer
quando me falas
nem o absoluto estremecer
do meu corpo
quando me beijas
nada fica
mas enquanto estão aqui
são a razão e o sentido
de tudo
silvia chueire
nem a memória do riso
a sacudir-me de puro prazer
quando me falas
nem o absoluto estremecer
do meu corpo
quando me beijas
nada fica
mas enquanto estão aqui
são a razão e o sentido
de tudo
silvia chueire
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
dorme
dorme entre os dedos
a rosa viva
no meio da noite
e os lábios dizem
a palavra impossível
lâmina em meio ao delírio.
no escuro os olhos cantam
uma canção liberta
o corpo desorientado
sabe apenas ser corpo
uma harpa estremece,
embala os cabelos
a irem e virem
e um nome improvável.
silvia chueire
a rosa viva
no meio da noite
e os lábios dizem
a palavra impossível
lâmina em meio ao delírio.
no escuro os olhos cantam
uma canção liberta
o corpo desorientado
sabe apenas ser corpo
uma harpa estremece,
embala os cabelos
a irem e virem
e um nome improvável.
silvia chueire
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
mais uma
só mais uma noite
no auge do verão.
não importa se estás surda ou muda,
se as árvores se mexem ao vento,
o ar te queima a paz,
se a angústia te agarra as pernas,
ou mais um ano se vai.
é uma noite apenas.
silvia chueire
no auge do verão.
não importa se estás surda ou muda,
se as árvores se mexem ao vento,
o ar te queima a paz,
se a angústia te agarra as pernas,
ou mais um ano se vai.
é uma noite apenas.
silvia chueire
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
não espero
eu tinha sentimentos vagos e pensava
que o mundo era assim
não previa a geometria de cada gesto
a expectativa da morte alheia
não estava nos meus planos
- talvez estivesse, disseram-me –
sob as minhas pálpebras
derramavam-se inquietações
aprendi a ter calma
dei-lhes as mãos
dormi com elas
não concebia outro corpo como se fosse meu
perdia-me em baladas noturnas
pelo gosto acre doce
do sol a nascer
vivia cada horizonte diário
cada horizonte, o último
hoje não me evado do silêncio
deixo-me nele
numa nostalgia estúpida do que não
nada espero
silvia chueire
eu tinha sentimentos vagos e pensava
que o mundo era assim
não previa a geometria de cada gesto
a expectativa da morte alheia
não estava nos meus planos
- talvez estivesse, disseram-me –
sob as minhas pálpebras
derramavam-se inquietações
aprendi a ter calma
dei-lhes as mãos
dormi com elas
não concebia outro corpo como se fosse meu
perdia-me em baladas noturnas
pelo gosto acre doce
do sol a nascer
vivia cada horizonte diário
cada horizonte, o último
hoje não me evado do silêncio
deixo-me nele
numa nostalgia estúpida do que não
nada espero
silvia chueire
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